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quinta-feira, 25 abril 2024
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Do que as crianças e bebês se lembram?

É inegável que a pandemia afetou nossas vidas de diferentes maneiras e em diferentes lugares. Hoje, vejo filmes em que há mais de 10 pessoas no mesmo ambiente e, mesmo que o filme seja dos anos 2000, me pego pensando “todo mundo sem máscara, que perigo”. Muitas das precauções que aprendemos a tomar devem permanecer conosco. Mas e quanto às crianças e bebês que tiveram um percentual de suas vidas muito maiores do que o nosso em isolamento?

Qualquer criança com menos de 4 anos já passou a maior parte de sua vida vivendo em uma pandemia. Quais serão as consequências destes eventos? O que podemos elaborar a partir desse pensamento inicial? Será que eles vão sequer se lembrar?

Um artigo recente do Huffpost, que compila diferentes estudos, aponta que sim e que a memória infantil tem um alcance maior do que prevíamos inicialmente.

Crianças na pandemia: é saudável esconder as notícias?

Estudos indicam que as crianças começam a formar memórias antes do período em que os cientistas acreditavam. (Foto: Reprodução)

Quando as crianças começam a formar memórias?

Eu era do time que dizia “pra que fazer festa de 1 ano? A criança nem vai lembrar. Festa de 1 ano é pros pais, não pro bebê”.

Porém, de acordo com os estudos realizados por Carole Peterson, professora e pesquisadora que estuda linguagem e memória, elas guardam memórias até anteriores ao que acreditávamos.

Em um de seus estudos, Peterson mostrou que crianças que passaram no pronto-socorro aos 2 anos e foram entrevistadas anos depois ainda guardavam detalhes do ocorrido anos antes. Um outro estudo também mostra que entre 5 e 7 anos as crianças costumam se lembrar de acontecimentos de seu 3º ano de vida, mas essas memórias tendem a ficar um pouco mais fracas quando se aproximam dos 8 ou 9 anos.

Uma outra questão está na imprecisão das memórias relatadas por crianças a partir da perspectiva adulta. De acordo com a pesquisadora, muitas vezes as crianças se lembram de detalhes do passado, mas acham que o evento é muito mais recente do que realmente foi.

Um único evento, a menos que seja um grande trauma, não é tão importante para a criança a longo prazo. (Foto: Reprodução)

Crianças são resilientes

De acordo com a psicóloga Jenny Yip, as crianças vão se lembrar com mais frequência de “qualquer coisa que seja emocionalmente saliente”.

Uma amiga que tem duas filhas pequenas perdeu a cunhada e a sogra para o COVID-19, ou seja, suas filhas ficaram sem a tia e a avó. Isso significa que elas tendem a ter lembranças mais intensas deste período, conforme a explicação de Yip.

A boa notícia é que uma lembrança não é equivalente a um trauma. Segundo Mark Reinecke, diretor clínico do Child’s Mind Institute, em São Francisco, eventos únicos, a menos que sejam muito traumáticos, raramente têm efeitos no desenvolvimento social e emocional da criança a longo prazo. Para ele, em geral, as crianças são resilientes.

O papel da família é fundamental para auxiliar a criança a lidar com suas memórias e conhecer a si mesma. (Foto: Nappy)

A família pode ajudar?

Peterson afirma que o modo como a criança se comunica com a família é fundamental. “É como um músculo sendo desenvolvido”, diz a pesquisadora.

Por isso, é importante que a família incentive a criança através de perguntas que remetam a experiências da semana passada, do último verão, das férias, etc.

Outro ponto importante para Peterson é que não basta relembrar momentos felizes. A criança também precisa ser incentivada a refletir sobre diferentes tipos de memórias, inclusive as lembranças ruins.

“Falar sobre e ajudar a criança a entender e ajudar a criança a sentir que tem algum controle, que lidaram bem com isso – essas são coisas importantes a fazer”, conclui.

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